A mulher Recifense e sua luta pela universidade pública e pelo respeito aos funcionários na UEL
Londrina, 19 de Outubro de 2019
A mulher Recifense e sua luta pela universidade pública e pelo respeito aos funcionários na UEL
Em conversa com Silvia Borba, 56 - Técnica do departamento de bioquímica da UEL - no laboratório no qual trabalhou por 25 anos, ou como ela costuma chamar de “minha casa”, a técnica contou um pouco sobre suas vivências dentro da Universidade. Confesso ter ficado emocionado por mais de uma vez escutando suas histórias de luta e resistência que são narradas num ritmo que só as cantoras do samba apresentam. Mas ela foi pra além disso, Silvia sabe da importância de sua história naquela universidade, que, com muita simplicidade fez questão de contar.
Sua fala se inicia pela frase “Estou entristecida, sabe?! Com o que eu estou vendo acontecer aqui. Vida aqui na UEL, desde o começo, foi luta.” e segue “A minha visão como funcionária é diferente da visão de um docente. A minha visão como funcionária é de luta pela defesa da Universidade e para provar para os docentes que o funcionário não é um móvel que você pode passar por ele e não ter que dar nem bom dia”. Silvia é figura central na articulação da categoria dos funcionários de toda UEL na luta por direitos e representação iguais a dos docentes desde o início de sua carreira. Em uma outra conversa com ela, me recordo das aulas de bioquímica em seu laboratório e de elogiar seu trabalho dentro da sala dizendo “Sílvia, para mim você que era a professora dentro da sala de aula, pelo tanto que me ensinou”, e ela me respondeu “Não, eu não sou professora. Sinto prazer em ensinar todos os alunos que por ali passam, mas eu sou a técnica!” me ensinando mais uma valiosa lição.
Laboratória de Bioquímica CCE/UEL
Seguiu sua fala pontuando um tema central que fragilizou e desarticulou a universidade “Sei que as pessoas vão se sentir mal com o que vou dizer agora, mas, a reação, que nós não temos agora, tem muita responsabilidade das administrações da UEL…” e opina “... todas as administrações que passaram por aqui, pelo menos desde que eu estou aqui, falharam em formar cidadãos…” “…nenhuma delas se preocupou em dar à comunidade uma formação de cidadania mesmo, sabe?! Do que importa para um cidadão, qual é o seu papel dentro da sociedade...” e conclui “... e olha que isto é uma das finalidades da Universidade, está em estatuto.”
Para ela, outro grande motivo que gerou essa falta de reação da comunidade é devido às rixas entre categorias “existe uma disputa muito grande entre os docentes e funcionários”. Com um sorriso irônico de quem sentiu muito isso na pele, continuou “isso não é bom, isso nos fragiliza”. Me alertou também sobre a importância de estarmos unidos frente aos projetos atuais (LGU e Future-se) que irão afetar negativamente todas as categorias da Universidade.
Sílvia me contou da movimentação organizada por ela que avaliou a situação de trabalho de cada funcionário do CCE (Centro de Ciências Exatas) “Há dez anos atrás, fizemos uma movimentação para avaliar o trabalho dos funcionários comparando nossa situação com a realidade vivida há dez anos atrás (ou seja 20 anos de hoje)”. Os resultados encontrados foram “concluímos que o CCE em pouco tempo viria a se acabar devido aos funcionários aposentados que e não foram repostos”. Perguntei a ela o número de funcionários do CCE, e respondeu “quando entrei éramos 74, hoje menos que 50. No departamento de bioquímica são apenas 3 técnicos que atendem 13 cursos de graduação, sendo que os três já possuem tempo para aposentadoria”. Ela também citou algumas situações da universidade “alunos que cursam no período da noite não contam com muitos dos serviços da UEL, por exemplo o atendimento médico e secretaria, devido a falta de funcionários”. O final deste estudo é chocante quando aponta a realidade dos funcionários responsáveis pela limpeza do CCE, em suas palavras “o pessoal da limpeza que trabalhava aqui há 20 anos atrás, tinha que limpar uma média de 600m² de área, quantidade razoável. E concluímos que há 10 anos atrás a área destinada à limpeza pra cada funcionário passou a ser de 5 quilômetros, CINCO QUILÔMETROS”, e o que a administração fez quando o CCE apresentou esses dados? Nada, absolutamente nada.
As previsões para o futuro próximo da Universidade pública são terminais. Eu, como estudante, acredito na história da UEL e nas pessoas que se dedicaram por essa instituição. Acredito na importância de reviver as histórias dessas pessoas, de mantê-las vivas por aqueles corredores, por isso fiz questão de escrever sobre a história da Silvia.
Agradeço a Silvia Borba pelo tempo dedicado à esta conversa que reviveu os tempos de luta da Universidade.
Parabéns pelo artigo e principalmente pontuar sobre essa Personagem cheia de vida, sabedoria, e amor à Universidade e seu trabalho; belo texto e avance nessa ideia de projetar os ideais dos profissionais da UEL.
ResponderExcluirSIMMM a cidadania não é luxo, é educação e conhecimento dos direitos e dos deveres de cada um de nós.